A Cinemateca Brasileira apresentou os resultados do Projeto Nitratos na terça-feira, 28, em um evento que contou com a presença de autoridades governamentais, patrocinadores e imprensa. Dos aproximadamente três mil materiais em nitrato de celulose encontrados na Cinemateca, 1.893 filmes foram recuperados, catalogados e digitalizados.
Esta iniciativa faz parte do programa Viva Cinemateca, que tem promovido projetos de preservação e restauração das coleções sob a guarda da instituição. As atividades técnicas da Cinemateca Brasileira ficaram paralisadas por quase dois anos, até que a Sociedade Amigos da Cinemateca assumiu a gestão integral em 2021.
Pela primeira vez em mais de sete décadas, a organização recebeu recursos para revisar a coleção de nitratos de celulose do seu acervo, com o objetivo de catalogar, conservar e duplicar obras das décadas de 1900 a 1950. O Projeto Nitratos obteve um aporte de R$ 17 milhões de patrocinadores, como a Shell, através da Lei de Incentivo à Cultura. Desse montante, R$ 13 milhões foram subsidiados pelo Instituto Cultural Vale.
Os fundos foram utilizados para revitalizar o laboratório de imagem e som, adquirir filmes virgens para duplicação do material em nitrato e contratar mais de 30 profissionais que realizaram cerca de 5.500 pesquisas.
A equipe contou com nomes como Rodrigo Archangelo, Tamara Santos, Giuliana Ghiraldelli, Iago Cordeiro Ribeiro, Igor Andrade Pontes, Marcella Grecco de Araújo, Yasmin Gabrielle Rahmeier Souza, Felipe Queiroz Correa e Castro, Leandro Sampaio de Melo, Luisa Malzoni, Marcela Sonim e Mariana Menna.
Descobertas e Mudanças
Entre as descobertas dos pesquisadores estão “Barulho na Universidade” (1943), filme de Watson Macedo dado como perdido, e “Apuros de Genésio” (1940), que será exibido no Festival de Filmes Silenciosos de Pordenone, na Itália. A obra de Silvino Santos, “Amazônia e Rio Exposição de 1922” — uma compilação de imagens capturadas entre 1919 e 1926 —, também contribui para a compreensão da história brasileira. “Ceremônias e Festa da Igreja em S. Maria” (1909) foi revelado como o documentário mais antigo da coleção.
O programa Viva Cinemateca reintegrou a entidade nos congressos da Federação Internacional de Arquivos de Filmes, ampliando o diálogo com cinematecas do mundo inteiro. A cinemateca de Roma, por exemplo, devolveu cerca de 700 latas de filmes brasileiros. Com o Projeto Nitratos, a Cinemateca Brasileira recebeu ainda outros 150 novos materiais em nitrato, mas carece de recursos suficientes para restaurar essas películas.
A coleção de nitratos está naturalmente se deteriorando. Esse material, que pode entrar em autocombustão facilmente, foi reavaliado para evitar incêndios como os de 1957, 1969, 1982 e 2016.
A duplicação e digitalização dos títulos encontrados na Cinemateca são formas de assegurar que a história do cinema brasileiro não se perca. Apenas em 2016, estima-se que um incêndio no acervo de nitratos de celulose causou a perda de quase mil obras.
O Projeto Nitratos, focado principalmente em cinejornais, deve resultar ainda em uma mostra de filmes. Os títulos estão sendo disponibilizados no Banco de Conteúdos Culturais, e a diretora-geral da Cinemateca Brasileira, Dora Mourão, anunciou planos para um serviço de streaming pelo Ministério da Cultura.
Cursos
Além do trabalho técnico com as películas, os pesquisadores da Cinemateca estão compartilhando suas experiências do Projeto Nitratos através de cursos de formação. O primeiro deles, “Mulheres Pioneiras do Cinema”, aconteceu em dezembro do ano passado e foi ministrado por Marcela Grecco.
Outro curso, chamado “A Cultura Cinematográfica e sua História: cinematecas, cineclubismos, festivais, filmografias e historiografias”, ocorreu na Cinemateca — e no YouTube — no final de abril.
O curso mais recente oferecido ensinou os inscritos a acessar o Banco de Conteúdos Culturais e a entender a base de dados Filmografia Brasileira. Cinejornais, documentários, ficção, filmes domésticos e publicidade de curta, média e longa-metragens foram analisados.
Os pesquisadores se revezaram na sala Oscarito durante quatro dias de curso, apresentando detalhadamente o trabalho desenvolvido ao longo de um ano. Embora tenham feito muitas descobertas sobre o acervo de nitratos e a história brasileira, muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas. Por isso, a equipe da Cinemateca Brasileira convida profissionais a continuar sua extensa pesquisa sobre esse tipo de suporte.
Em junho, interessados poderão participar do curso “Os cinejornais no Brasil: notícia e entretenimento nos cinemas brasileiros do século XX”. Vale lembrar que, embora as inscrições estejam esgotadas, é possível assistir ao evento pelo YouTube ou visitar a Cinemateca para verificar se há vagas disponíveis devido a desistências.
FONTE: Rolling Stone (https://rollingstone.uol.com.br/cinema/projeto-nitratos-cinemateca-brasileira-recupera-e-disponibiliza-a-mais-antiga-colecao-de-filmes/)