✊🏿 Neste mês, quando é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, o g1 apresenta a série de reportagens Potência Preta, que mostra exemplos de mulheres negras que enfrentaram e ainda enfrentam obstáculos para construir e gerir o próprio negócio.
Aquilombar: reunir em quilombo; se organizar; entender o que precisa e colocar em prática. Foi com esse conceito que surgiu o ponto físico da Aquilombar Produções, espaço sociocultural localizado no bairro Lagoinha, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Com 750 metros quadrados e capacidade para receber 500 pessoas, o local nasceu com a ideia de conectar artistas, promover a diversidade na cidade e ser um dos braços da produção cultural, trabalho que a empresária Fatini Forbeck executa desde 2019.
“Eu já produzia o Samba das Pretas, em BH, mas queria levar a minha proposta para outras frentes. Entendi que, para fazer isso acontecer, precisava ter um guarda-chuva. Com uma proposta de organização, como uma metodologia de produção, veio o Aquilombar. É uma forma de se direcionar e entender que o nosso povo é potência, entendendo que, do lugar de onde eu vim, nascem reis e rainhas. E aí eu estou falando para além do continente africano, estou falando da favela mesmo, da periferia”, explicou.
Realizar o sonho de ter um espaço físico não foi fácil. Fatini convidou a amiga, sócia e publicitária Nathalia Trajano para auxiliá-la na missão. Foram vários orçamentos e pesquisas até encontrarem o ponto ideal.
“Os aluguéis de espaços giram em torno de R$ 12 mil a R$ 22 mil. Como que você, enquanto produtor independente, consegue lucrar diante dessa realidade? Então, buscamos alternativas, pensamos em lugares que fossem acessíveis e confortáveis. Encontramos!”, contou.
Atualmente, são 35 pessoas trabalhando no empreendimento, além dos artistas que se apresentam semanalmente.
O espaço cultural Aquilombar foi inaugurado no dia 2 de novembro deste ano, mas a história de empreendedorismo de Fatini vem de muito antes. Mais precisamente aos 14 anos, quando morava com a família no Aglomerado da Serra, uma das maiores favelas de Belo Horizonte.
Após a energia da casa ser cortada por falta de pagamento, ela começou a trabalhar. De lá pra cá, nunca mais parou.
“Comecei a trabalhar para ajudar minha família, porque eu não aguentava mais ficar sem luz, sabe? Porque a energia sempre era cortada. Quando tinha alguma roupa, eu vendia no bazar. Produzia festas do pessoal da minha comunidade. Já na adolescência, eu e minhas amigas não podíamos ver uma sucata que a gente levava no ferro-velho para vender e ir no baile.”, contou.
Com o tempo, o desejo de ter autonomia ficou mais latente. Fatini se especializou em fotografia, se formou na faculdade de serviço social e, durante muito tempo, trabalhou por conta própria como videomaker, quando se inseriu no ramo cultural.
“Muitas vezes, o empreendedorismo vem para solucionar problemas, para atender uma demanda. Então, foi a partir disso que eu olhei e falei: ‘É aqui que eu quero ficar’. Eu me encontrei, tanto como assistente social, quanto como empreendedora”, disse.
Sem romantizar a pobreza, a empresária faz questão de reforçar que empreender não é fácil, ainda mais quando se trata de uma mulher preta.
“É guerra, é luta, é dificuldade, né? Principalmente quando se é uma mulher preta. É muito difícil para a sociedade ver a gente nesse lugar. Por exemplo, quando é uma mulher branca fazendo acontecer, as pessoas falam: ‘Nossa, que destemida! Que mulher incrível!’. Com a gente é diferente. Porque a preta sempre será rotulada como arrogante e prepotente. E não é isso!”, afirmou.
“É muito importante a gente se organizar financeira e emocionalmente pra viver aquilo que deseja viver. Porque tem aquela máxima que é o seguinte: ‘É melhor você estar preparada e não ter uma oportunidade, do que ter uma oportunidade e você não estar preparada’. Que a gente possa se organizar e se preparar. É legítimo poder viver os nossos sonhos”.
FONTE: g1 (https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2023/11/29/produtora-cultural-diz-que-racismo-e-obstaculo-para-empreender-e-dificil-para-sociedade-enxergar-a-gente-neste-lugar.ghtml)