O guitarrista de metal que se recusa a parar mesmo após Parkinson

Há exemplos diversos de artistas na música que não se deixam abater por doenças ou condições físicas. O caso de Glenn Tipton, porém, é digno de nota.

Desde 1974 o inglês nascido em Blackheath é um dos guitarristas do Judas Priest, uma das bandas mais importantes e longevas da história do heavy metal. Porém, por volta de 2008, foi diagnosticado com Parkinson, doença degenerativa que afeta diretamente os movimentos do corpo.

Isso poderia significar a sua aposentadoria definitiva da música. Não seria nada mal, no fim das contas, pois à época tinha por volta de 60 anos de idade e mais de três décadas de serviços prestados à música pesada. Contudo, ele resistiu. Manteve o diagnóstico em segredo até 2018, quando o Priest anunciou que o veterano não estaria na turnê que promoveria seu décimo oitavo álbum de estúdio, Firepower.

Glenn, claro, não conseguiu manter a agenda de compromissos como em outros tempos. Para a banda ter continuidade, o também produtor Andy Sneap assumiu o instrumento ao lado de Richie Faulkner. Porém, o guitarrista original continuou envolvido com a banda: participou das gravações de Firepower e esteve em alguns shows selecionados da turnê, geralmente tocando as músicas do bis.
Mais alguns anos se passaram e o Priest anunciou mais um disco, Invincible Shield, lançado no último mês de março. Mesmo com seu quadro ainda mais avançado, Tipton, hoje com 76 anos, seguiu escalado para o trabalho. Não é à toa que ele ainda é listado como integrante da banda: o veterano, de acordo com a banda, gravou todas as partes que conseguiu e colaborou com as composições.
Em sua primeira entrevista desde a revelação do diagnóstico, no início de 2018, Glenn disse à Guitar World que receber a notícia do médico foi algo “perturbador, mas não chocante”. O motivo? Ele já imaginava — embora não quisesse — estar com Parkinson. Também declarou:
“Ouvir que já tinha Parkinson há muito tempo me deixou ainda mais determinado a lutar. Apenas continuei gravando e fazendo turnês.”

Glenn Tipton em 2024

Glenn Tipton reforçou o discurso de seus colegas e garantiu, à Total Guitar, ter tocado o máximo que conseguiu em Invincible Shield. O álbum foi gravado entre 2022 e 2023, após suas sessões iniciais de composição em 2020 terem sido adiadas em função da pandemia de covid-19.
“Toquei o que pude e estou muito orgulhoso de todo o álbum. Richie Faulkner ajudou muito. Acho que seu atributo mais forte é a capacidade de se adaptar a diferentes estilos, mantendo ao mesmo tempo um caráter muito forte. O Priest precisa de um guitarrista que possa mudar do metal puro para faixas mais melódicas.”

Ainda que reconheça as limitações impostas pela doença, Tipton segue disposto a trabalhar enquanto conseguir. Ele disse:
“Obviamente, a desvantagem para mim agora é o Parkinson e tive que passar muito trabalho para os ombros de Richie. Continuo me esforçando porque acredito em não me render. Esta doença não vai me vencer e continuarei compondo e tocando enquanto puder.”

Ao site The Aquarian, Faulkner falou sobre as contribuições de Tipton para Invincible Shield. O parceiro de instrumento, hoje com 44 anos, disse que o veterano esteve envolvido no processo de composição desde o início, mostrando suas ideias para ele e para o vocalista Rob Halford.