Atriz, também produtora do filme, foi premiada no Festival de Gramado de 2021 por seu trabalho como policial com Alzheimer. Filme marca estreia de Pedro Peregrino na direção de longas.
Dona de personagens marcantes na TV e no cinema, Glória Pires adiciona mais um relevante em sua carreira graças a seu impecável trabalho em “A Suspeita”. A atriz de 58 anos interpreta uma policial que investiga um esquema de corrupção, mas que sofre com graves problemas de saúde.
No longa, Lúcia é uma condecorada comissária da Polícia Civil. Ao lado do parceiro Paulão (Alexandre Rosa Moreno), ela tenta descobrir o paradeiro do traficante Beto (Daniel Bouzas) por meio de escutas. No meio da investigação, a policial descobre que o bandido está ligado a um esquema de corrupção do qual pode fazer parte alguns de seus colegas.
O problema é que Lúcia foi diagnosticada com Mal de Alzheimer e sua memória começa a falhar, complicando ainda mais o seu trabalho e deixando sua vida em perigo. Mas a policial resolve correr contra o tempo para resolver aquele que pode ser o último caso de sua carreira antes que o pior aconteça.
Jogo da Memória
“A Suspeita” marca a estreia de Glória Pires como produtora e de Pedro Peregrino como diretor no cinema. Em seu primeiro trabalho em longas, o cineasta mostra competência para construir boas cenas dramáticas e de ação.
Amparado por uma edição interessante, assinada por Joana Collier, Peregrino busca fazer o espectador se sentir como se estivesse na mente da protagonista, especialmente quando ela tem momentos de confusão e não consegue ter certeza o que está vendo ou com quem está falando.
O resultado, embora não seja espetacular como o mostrado em “Meu Pai” (que deu o Oscar a Anthony Hopkins), deixa a clara a competência da dupla.
Além disso, vale destacar a boa fotografia de Fabrício Tadeu. Ele consegue mostrar de maneira eficiente como as imagens na mente de Lúcia vão ficando lentamente desfocadas e distorcidas.
É clara a sensação de que algo vai se perdendo à medida que a doença avança e demonstra como a comissária se esforça para não se esquecer do que está vendo. Essa espécie de jogo da memória é essencial para que ela consiga concluir sua investigação, mesmo com sua saúde debilitada.
A parte menos inspirada do filme é o roteiro, de Thiago Dottori, sem desenvolver bem a trama policial e sem criar surpresas ou reviravoltas mais impactantes. A história segue um curso normal e não fica muito difícil descobrir quem está por trás do esquema de corrupção que Lúcia investiga. As questões envolvendo os efeitos do Alzheimer na protagonista é que se tornam o grande destaque do filme. Mas a trama criminal poderia ser melhor desenvolvida.
Talento inesquecível
Glória Pires brilha como a comissária de “A Suspeita” e consegue transmitir muito bem o sofrimento de sua personagem por saber que não pode confiar na própria memória. Ela está prestes a se tornar uma sombra da policial exemplar que se tornou por causa de sua doença.
A atriz também convence nas cenas em que percebe as coisas que perdeu por se dedicar ao trabalho, como construir uma família, o que lhe causa uma angústia mostrada de forma genuína.
Por sua performance, Glória levou o Kikito de Melhor Atriz do Festival de Gramado de 2021. O restante do elenco, como Gustavo Machado (o delegado Gouveia, amigo de Lúcia), Charles Fricks (o chefe da Polícia Civil), e Genézio de Barros (Padre Walter, tio da comissária) estão bem em seus papéis. Dão bom apoio para a protagonista.
“A Suspeita” se revela como um bem-acabado filme nacional, sem apelar para clichês ao mostrar os efeitos do Alzheimer. E isso é um grande mérito.