Mostra ‘Kaws: New Fiction’ mistura mundo virtual e real com obras em galeria, game e realidade aumentada.
O artista americano Kaws instalou nesta terça-feira (18) suas pinturas pop e esculturas coloridas na Serpentine Gallery de Londres, mas também dentro da versão virtual do museu, ambientada em “Fortnite”, o videogame com centenas de milhões de seguidores.
Em meio ao gramado gelado de Hyde Park, no centro de Londres, os espectadores apontam seus celulares para o teto da Serpentine Gallery.
Mas não para tirar fotos do prédio de tijolos vermelhos e colunas brancas, mas porque, através dos dispositivos é possível ver em realidade aumentada uma grande escultura de um homem azul sentado no telhado, invisível a olho nu.
A escultura é do artista nova-iorquino, cuja exposição, “Kaws: New Fiction”, mistura o mundo virtual e o real.
A exposição é composta de “três camadas”, explica à AFP o diretor artístico Hans Ulrich Obrist. “Está a exposição física na Serpentine Gallery, com pinturas e esculturas, depois os elementos de realidade aumentada e também a Serpentine Gallery no ‘Fortnite'”, um dos videogames mais populares do mundo.
Durante a semana, os 400 milhões de seguidores do jogo da Epic Games têm acesso a uma réplica exata do museu dentro do videogame, a qual podem visitar com seus avatares para ver as obras.
A Epic Games colaborou de forma similar com cantores de renome internacional para que oferecerem shows dentro do jogo.
“Mas é a primeira vez que o Fortnite colabora com as artes visuais, com uma galeria pública”, diz Obrist.
Embora considere “muito diferente” ver uma exposição em um jogo ou fisicamente, ele acredita que as experiências são “complementares”, sobretudo porque muitos visitantes não familiarizados com o mundo dos games podem se interessar neles e vice-versa.
“Para nós, trata-se de chegar a públicos muito diferentes” e criar “um diálogo transgeracional”, acrescenta o diretor artístico.
ZONA DE CONFORTO
“A idade média dos jogadores de ‘Fortnite'”, muito popular entre os adolescentes, “é muito mais jovem do que o visitante médio do museu”, destaca Hans Ulrich Obrist, que “espera que toda uma nova geração se aproxime da galeria”.
Sobretudo porque este projeto “chegará a um público que provavelmente seja dez vezes maior que o da Bienal de Veneza”, afirma o comissário da exposição, Daniel Birnbaum.
Também para o artista, Brian Donnelly (seu nome de registro), o interesse radica em tornar sua obra mais acessível.
“Me interessa saber que minha obra pode ser vista por uma criança na Índia e também em Londres”, disse à AFP o pintor e escultor de 47 anos. “É fascinante”.
“Uma comunidade tão grande vai poder ir de repente ao museu, ver estas pinturas e esculturas”, comemora o ex-grafiteiro convertido em artista visual.
“Acho que para algumas crianças será a primeira vez que vão se sentir confortáveis dentro de uma exposição”, diz.
SEM TIROTEIOS
Seus personagens estilizados com cabeça de caveira já tinham sido vistos em todo o mundo em instalações gigantes e produtos promocionais.
E agora poderão atrair o público mais jovem de ‘Fortnite’ com seu aspecto pop, acessível e colorido.
Kaws, que colabora pela segunda vez com “Fortnite”, explica que suas obras serão expostas no “creative hub”, um modo específico do jogo, distanciado das partidas em que os jogadores lutam para ser o último sobrevivente.
“Não haverá tiroteios na exposição”, brinca, assegurando que a comunidade dos jogadores é “diferente do que pensamos”.
Quanto a se os jogadores vão parar realmente para contemplar suas obras no jogo, “é difícil dizer”, admite o artista.
“Se você leva uma criança de onze anos a um museu tradicional, não sabe se vai olhar as obras. É a mesma coisa”, assegura.