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Milhas para viajar: saiba se ainda vale a pena acumular

Com dólar ainda alto, tem sido difícil conseguir bancar voos internacionais, dizem viajantes. Por outro lado, há boas oportunidades em trajetos nacionais.

Acumular pontos no cartão de crédito e nunca conseguir emitir uma passagem aérea com milhas, seja por não compensar ou por passar da validade.

Situações como essas são comuns entre os brasileiros e geram a pergunta: será que vale a pena?

Para o professor de finanças do Insper Ricardo Rocha, tirar proveito do acúmulo de pontos no cartão de crédito para emitir uma passagem requer disposição para administrar tempo e dinheiro.

“Milhas são um ativo como qualquer outro. Você tem que fazer a gestão: do contrário, você está juntando algo que não vai usar. Se você não tem tempo para fazer essa gestão ou não pretende viajar, o melhor é vender milhas. Mas, se você tem interesse, se organize”, diz Rocha.

Viajantes experientes consultados pelo g1, ter sucesso nessa empreitada depende de muitas variáveis. Algumas delas são:

  • Acompanhar promoções das companhias aéreas e saber como usá-las para multiplicar milhas;
  • Checar a data de expiração da milhagem para não perdê-la;
  • Saber a quantidade mínima de pontos que cada companhia exige para emitir um bilhete;
  • Verificar se a empresa de aviação tem uma tabela fixa ou variável – no primeiro caso, o preço de uma passagem em milhas não muda independentemente de feriado, alta temporada, etc. Já no segundo, tem alteração;
  • Além do mais básico: saber se e quanto o seu cartão de crédito pontua.

As viajantes entrevistadas relatam que conseguem bons negócios em viagens nacionais, em baixa temporada e aproveitando promoções.

Por outro lado, dizem que um dos maiores desafios é juntar pontos suficientes para trocar por voos internacionais.

Além disso, uma das entrevistadas relata que, com a alta do dólar e a redução do poder aquisitivo nos últimos anos, ficou mais difícil, para ela, acumular pontos no cartão para transformá-los em milhagem.

PALAVRA DE QUEM VIAJA COM MILHAS

A farmacêutica Fabiana Ramos Martins é um exemplo de quem sabe aproveitar bem a milhagem.

Ela e seu marido viajam diversas vezes por ano pelo Brasil usando o benefício. Os dois juntam pontos no cartão de crédito, mas já conseguiram milhas reservando hotéis e fazendo compras em lojas parceiras de programas de fidelidade.

Com filhos já adultos e trabalhos flexíveis, os dois podem, hoje, viajar fora de temporada, quando os preços estão mais em conta, diz Fabiana.

“Ficamos muito atentos a promoções, em períodos de Black Friday, por exemplo, e das próprias companhias aéreas, que, em alguns momentos, anunciam que se você transferir os seus pontos do banco, em um determinado dia, você ganha o dobro em milhas”, diz.

Esse tipo de promoção é chamada de “transferência bonificada”.

VIAGENS INTERNACIONAIS X NACIONAIS

Outra prática da Fabiana é sempre comparar o valor que ela gastaria para adquirir uma passagem com milhas ou pelo preço normal, para ver se compensa.

“Para ir para Europa, por exemplo, é preciso juntar muitas milhas para emitir uma passagem. Nesses casos, às vezes, vale mais a pena parcelar várias vezes no cartão”, diz.

“Uma vez colocamos no papel e vimos que teríamos que sacrificar um monte de viagens pelo Brasil para usar as milhas para um destino internacional mais distante. Nós usamos milhas somente para Brasil e América do Sul”, conta Fabiana.

VALIDADE DO BENEFÍCIO

Na gestão das milhas, um dos principais cuidados é ficar de olho na data de validade do benefício para não perdê-lo, destaca a gerente de RH Solange Faria Rodrigues, que viaja há oito anos trocando pontos do cartão por milhas.

“Outro cuidado que eu tenho é verificar, periodicamente, o meu saldo para ter certeza de que está sendo contabilizado direitinho. No aplicativo do programa de pontos, dá para acompanhar o acúmulo, a validade e as promoções de passagens”, afirma.

Solange diz que, para ela, vale a pena usar milhas, já que ela costuma pagar quase tudo com o cartão de crédito.

MÍNIMO DE PONTOS

É preciso se atentar ainda a alguns empecilhos que as companhias aéreas colocam, como uma quantidade mínima de pontos necessários para fazer a transferência da pontuação dos cartões para os programas de fidelidade.

Quem não sabe dessa informação, acaba perdendo a milhagem, conta Rafaela Molas, que ministra cursos sobre como acumular milhas há quatro anos. Em suas redes sociais, ela tem mais de 200 mil seguidores.

Além disso, tem companhia aérea que trabalha com tabela variável, que muda de acordo com período de férias escolares, feriados, etc. Então, o preço vigente em milhas pode não ser o mesmo do período em que você pesquisou a passagem.

Por outro lado, é mais difícil encontrar uma vaga em voos de companhias aéreas com tabela fixa durante alta temporada. “É como se eles liberassem menos assentos em milhas em datas com muita demanda”, diz Rafaela.

CUIDADOS COM O CARTÃO

Já Livia Pereira, do blog Viajando com Livia, lembra da importância de ter uma boa gestão financeira. Com mais de 450 mil seguidores em suas redes sociais, ela dá dicas de como aproveitar milhas para viajar desde 2018.

Como muita gente no Brasil se endivida usando o crédito, Livia diz que é importante que as pessoas controlem para não gastar além dos ganhos e que procurem um cartão de crédito que se adeque à sua renda.

Tendo um bom planejamento, Livia afirma que o acúmulo de milhas por meio do uso do cartão de crédito pode ser uma forma de tirar vantagem das taxas cobradas pelos bancos.

“Toda vez que a gente usa o cartão de crédito, existe uma taxa que é cobrada nesta operação. O lojista que te cobrou R$ 100, vai receber R$ 97. Aquela taxa de 3% vai para o banco, para a operadora do cartão e para a empresa da maquininha. Todo mundo ganha dinheiro quando você passa o seu cartão”, diz Livia.

“O lojista não toma essa taxa do cartão sozinho. Então, ele embute essa taxa dentro da precificação do produto. Se a gente não ganha R$ 10 reais de desconto para pagar em dinheiro, então vale a pena sim usar o cartão”, afirma.

DÓLAR ALTO, ORÇAMENTO APERTADO

Por outro lado, a turismóloga Mariana Dias Galindo parou de usar o cartão de crédito e de acumular milhas após a escalada mais forte do dólar nos últimos quatro anos. Além disso, o aumento da inflação apertou o seu orçamento familiar, forçando um corte de gastos.

“Há uns quatro anos, valia a pena, para mim, acumular milhas para viajar. Eu passava tudo no cartão de crédito. Então, com uma fatura de R$ 3 mil, eu conseguia juntar cerca de mil milhas. Mas, hoje, para conseguir mil milhas, a fatura precisa ser maior”, diz.

“Com pandemia, crise, tive que segurar gastos. Hoje, as minhas faturas são mais baixas e eu prefiro passar tudo no débito para não me perder nas contas”, afirma.