O que faz de The Batman tão diferente e que mereça o seu ingresso?
Depois de diversos adiamentos, The Batman finalmente está entre nós.
O novo filme de Matt Reeves chegou dando muito o que falar e recebendo muitos (e merecidos) elogios pela visão que ele trouxe para um dos mais icônicos heróis dos quadrinhos.
Apesar da desconfiança inicial por causa da escalação de Robert Pattinson no papel do Cavaleiro das Trevas, a nova aventura do personagem é um prato cheio para qualquer fã de quadrinhos.
Só que ainda há quem possa estar com o pé atrás com o longa. Afinal, depois de tantas adaptações do personagem para o cinema, o que faz de The Batman tão diferente e que mereça o seu ingresso?
Seja você um velho fã das HQs, um admirador dos filmes do Homem-Morcego ou apenas o apreciador de um bom cinema, não faltam motivos para você assistir ao filme.
5. ROBERT PATTISON ESTÁ INCRÍVEL
Você deve se lembrar bem do tamanho do choro na internet quando a Warner Bros confirmou que Robert Pattinson seria o novo Batman. As redes sociais foram tomadas por reclamações e muita gente condenou a escolha, alegando que era impossível o protagonista de Crepúsculo encarnar toda a complexidade do Homem-Morcego e que a entropia de imersão seria prejudicada. Pois todos estavam errados.
O ator já tinha provado ter deixado a imagem de galã adolescente no passado e há tempos já estava emplacando filmes de peso e demonstrado uma intensidade dramática impressionante — o que fica ainda mais claro em The Batman.
Antes da estreia, Pattinson falou diversas vezes sobre como ele enxergava o personagem de uma forma menos heróica e como essa pegada mais psicológica era algo que estava muito presente no longa. E é justamente isso o que encontramos na sua interpretação do Cavaleiro das Trevas: alguém realmente quebrado e com muitos traumas — e tudo isso é facilmente perceptível graças ao excelente trabalho de atuação do rapaz.
Logo na sequência de abertura do filme, é possível perceber todo o peso e a brutalidade que esse Batman carrega apenas pelo jeito com que o ator se movimenta. Quando está sem máscara, é nítido o quanto o seu Bruce Wayne é perturbado e obsessivo com essa história de vingança e, mesmo sem falar muita coisa, é fácil perceber como a sua relação com Alfred (Andy Serkis) é desajustada graças a todos esses problemas que ele carrega.
Mais do que isso: há momentos que você sente a dor do personagem e entende seus pensamentos apenas pelo olhar. Ainda no começo do filme, o Batman vai à cena de um crime e encontra um garoto que acabou de testemunhar a morte do pai e você percebe no modo como Pattinson encara o menino o quanto o homem por baixo do manto está revivendo a sua própria perda naquele instante. Parado e sem falar nada, ele entrega um momento tão pesado e significativo que nenhuma história de origem tradicional seria capaz de reproduzir.
4. UM VILÃO À ALTURA
Vamos ser sinceros: o Charada está bem longe de ser um vilão realmente querido pelos fãs do Batman. Embora faça parte da chamada galeria clássica de inimigos, ele sempre fez parte de uma categoria inferior, uma vez que nunca foi capaz de oferecer grande resistência física ao herói e nunca teve uma grande história que fizesse dele uma ameaça real — até agora.
A versão do personagem apresentada em The Batman é bem diferente daquela que nos acostumamos a ver em outras mídias. Esqueça a lycra verde-limão, a bengala em forma de interrogação e o jeito exagerado de falar: o Charada de Paul Dano é realmente assustador e emblemático.
Isso tudo porque ele é, acima de tudo, um terrorista. O filme sabe aproveitar esse jogo de gato e rato que o vilão sempre fez nos quadrinhos e trazê-lo para um contexto mais realista em que os seus jogos nada mais são do que parte de um grande terrorismo que se desenrola de forma bem surpreendente.
Além disso, mesmo mostrando o rosto muito pouco, o ator Paul Dano consegue fazer com que essa interpretação do personagem seja muito ameaçadora. O seu jeito de falar, as suas reações e o próprio visual dão uma nova cara ao personagem e o trazem para o primeiro escalão de perigo.
E até mesmo quando vemos o rosto desmascarado e há uma volta para o ridículo a que o Charada sempre pertenceu, ele continua muito interessante. Sem entrar no campo dos spoilers, essa visão do vilão é perturbadora porque é bastante crível dentro do contextos de 4chans e massacres de internet, o que torna tudo muito assustador por ser bastante crível.
3. HISTÓRIA POTENTE
Só que não é apenas nas atuações que The Batman brilha. O novo filme da DC tem uma história muito forte que explora não só a tão comentada complexidade psicológica do personagem, mas também o significado do que é ser um herói — e as consequências que esse símbolo carrega —, assim como explora muito bem todo o universo de Gotham.
A trama básica é aquilo que você já sabe: Bruce Wayne está atuando como Batman há cerca de dois anos e é surpreendido com uma série de assassinatos de grandes figurões da cidade, que sempre acontecem acompanhados de um enigma misterioso. Assim, à medida que investiga o responsável por esses crimes, ele passa a se deparar com segredos relacionados à sua própria origem.
Essa sinopse já é o suficiente para mostrar como a história avança bem pela mitologia do Batman, explorando todo o submundo da máfia que sempre orbitou o personagem.
Dessa forma, é muito interessante ver a construção de um Carmine Falcone (John Turturro) realmente influente e perigoso, assim como a construção de um Pinguim (Colin Farrell) que te faz querer ver mais sobre ele. Ao mesmo tempo, tudo isso é muito bem amarrado ao surgimento da Mulher-Gato (Zoë Kravitz), que desempenha um papel fundamental em humanizar o Homem-Morcego.
Contudo, o mais impactante do roteiro é justamente o debate sobre o que é ser um herói. Toda a jornada de The Batman gira em torno de como o personagem se vê e que imagem quer passar para essa Gotham tão vulnerável. Ele começa justamente sendo esse espírito de vingança, bruto e extremamente violento, e que evolui para ser o herói clássico.
Só que essa transformação é muito bem feita, tanto em termos visuais — o filme começa muito escuro e passa a clarear à medida que o Cavaleiro das Trevas vira essa chave — como no desenrolar dos eventos. Sem spoilers, mas as consequências desse símbolo sombrio pegam o espectador de surpresa.
2. MAIS DETETIVE, MENOS HERÓI
Apesar de ser um filme obviamente inspirado em quadrinhos, pode ter certeza de que The Batman não é um filme de herói como nos habituamos a ver nos últimos anos. O longa de Matt Reeves é algo muito mais puxado para uma história policial e de investigação do que para a velha corrida para salvar o mundo. Tanto que esse foco na transformação do personagem é algo que deixa isso bem claro.
Nesse sentido, é até possível compará-lo com a trilogia de Christopher Nolan, que também trouxe essa pegada mais policialesca ao roteiro. A diferença é que Reeves não tem vergonha de abraçar alguns maneirismos vindos das HQs e deixa de lado as explicações desnecessárias em prol da sua história, o que cria uma dinâmica bem mais interessante. Não é preciso mostrar o Batman com apetrechos tecnológicos absurdos para tudo quando a gente aceita que ele é realmente o Maior Detetive do Mundo.
Esse lado mais inteligente do herói é algo que sempre marcou muito os quadrinhos e quase nunca foi bem explorado nos cinemas. Aqui, temos um Batman que é realmente perspicaz e que consegue conectar ideias e tirar conclusões que somente ele é capaz — e tudo de forma bastante verossímil.
Isso dá ao roteiro um tom bem diferente de tudo o que vimos em outras histórias. A sua relação com Jim Gordon (Jeffrey Wright) funciona muito por causa do tom policial que a trama adota e te faz querer ver mais dos dois resolvendo crimes em Gotham.
1. PORRADARIA DE PRIMEIRA
Só que, apesar de tudo isso, ainda estamos falando de filme de gibi e o mínimo que a gente espera é que isso signifique grandes cenas de ação. E The Batman tem muitas.
Embora seja realmente uma história mais contida e bem psicológica, isso acaba se refletindo nas ações do personagem. O Batman de Pattinson é tão perturbado que isso fica claro na forma com que ele lida com criminosos em Gotham, lutando de forma extremamente violenta e brutal. Ele está tão obcecado pela ideia de transmitir medo que faz questão de fazer com que cada soco dado deixe clara a sua mensagem.
E isso é muito bem representado graças à ótima coreografia de luta. Todos os combates são muito bem pensados para exprimir tanto a força quanto a habilidade do personagem. O mesmo acontece nos confrontos envolvendo a Mulher-Gato, que praticamente dança enquanto sai descendo o sopapo em seus adversários.
Só que nada disso é acrobático e exagerado. Como a ideia de The Batman é manter esse pé bem fincado no realismo, tudo é muito cru e seco. Lembra-se quando a gente ficou boquiaberto com as sequências de luta em Demolidor? Pois é a mesma tônica de porradaria, com cada murro ecoando na sala de cinema e fazer o espectador sentir aquela dor.